Tendinopatia

Tendinopatia degenerativa e o papel do exercício na sua etiologia vs melhoria
Comecemos pela definição de alguns conceitos, tais como: tendinopatia degenerativa é uma síndrome clinica caracterizada por dor crónica acompanhada de espessamento do tendão. Geralmente resulta de movimentos/microtraumas repetitivos e/ou excessivos especialmente em trabalhadores e atletas recreativos. Na maioria dos casos esta apresenta-se num estadio crónico, ou seja, com mais de três meses de evolução. Tendinite por sua vez, refere-se à inflamação do tendão, que resulta frequentemente de uma tendinopatia; tenossinovite é uma tendinite com inflamação do revestimento da bainha. A maioria dos casos ocorre em pessoas de meia idade ou mais velhas. O diagnóstico é clinico, inclui uma história clinica e exame objetivo detalhado, sendo às vezes complementado com exames de imagem. A abordagem de primeira linha na tendinopatia crónica centra-se no tratamento conservador, ou seja, num programa coordenado de educação, descanso relativo, que inclui, uma redução das atividades agravantes, correção de possíveis falhas biomecânicas subjacentes e reabilitação ativa, com aumento gradual das atividades de carga do tendão.
Para uma melhoria da sintomatologia é necessário uma modificação da atividade desencadeadora da dor e de agravamento da lesão, é necessário educar o doente/treinador/empregador, limitando o volume e intensidade das cargas sob o tendão pelo período designado. Modificações biomecânicas e ergonómicas também são muitas vezes necessárias, como no exemplo da epicondilite observada no trabalhador de uma linha de montagem, ou no atleta que durante a corrida tem uma amplitude de eversão do pé exageradamente aumentada e que poderá estar associada à tendinopatia do tendão de Aquiles. Exercícios de carga também são uma ferramenta fundamental no programa de reabilitação da maioria das tendinopatias, como do tendão de Aquiles, do epicôndilo, rotuliana; exercícios lentos, controlados e com cargas progressivas revelam-se assim imprescindíveis. O alongamento do musculo-tendão é bastante útil, tanto para o alívio sintomático do espasmo muscular, bem como para o alongamento das unidades musculo-tendão que se encontram funcionalmente encurtadas. O alongamento deve fazer parte do programa de reabilitação, onde os exercícios devem incorporar uma preensão constante e assim, maximizar o alongamento do musculo-tendão. A aplicação de gelo ou calor na tendinopatia crónica contínua controversa, principalmente devido ao papel assumido pela inflamação nesta patologia. O calor pode ser mais útil no tratamento dos espasmos musculares, contudo a literatura diz-nos que nem o calor, nem o gelo são tratamentos importantes após a fase aguda, mas ambos podem servir como adjuvantes uteis para a melhoria e alívio sintomatológico. Mobilização articular e massagem na zona dolorosa também se mostram adjuvantes ativos na melhoria clinica, contudo com menor evidência do que os mencionados acima. Anti-inflamatórios sistémicos, como o paracetamol ou AINES podem ser uteis por um curto período de tempo (5 a 7dias), bem como os anti-inflamatórios tópicos.
Assim, o exercício excessivo, microtraumas repetitivos constituem possíveis etiologias da tendinopatia crónica, mas por sua vez, a reabilitação ativa, constitui um elemento integrante do tratamento de primeira linha da maioria das tendinopatias. Os programas específicos de reabilitação podem variar, mas os princípios de carga e alongamento progressivo do tendão-musculo e o regresso gradual à atividade e função permanecem centrais em qualquer programa.
Referências:
Karim Khan, MD, Alex Scott, PhD, RPT. Overview of the management of overuse (chronic) tendinopathy. www.uptodate.com ©2017 UpToDate. Mar 2017
Sara Isabel Gomes Antunes
Médica Interna de Medicina Física e Reabilitação no Hospital Garcia da Orta (Almada)
Cédula Profissional (Ordem dos Médicos): 62944
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